Não é uma revanche, não vale título e nenhum dos dois times estará com a força máxima. Mas quando os jogadores do Brasil entrarem em campo nesta terça-feira, no estádio Olímpico de Berlim, estarão em busca de outro resultado: começar a aliviar dos ombros parte do peso da maior humilhação do time na história da Copa do Mundo.
O encontro é o primeiro entre os times principais de Brasil e Alemanha desde o trauma dos 7 a 1, em 2014. Nos últimos quatro anos, o placar virou sinônimo dos problemas no País ao ganhar conotação social e apagar as fronteiras entre o esporte e a política.
A missão coube ao técnico Tite, que não esteve envolvido na tragédia de 2014 – o técnico na Copa foi Felipão – e assumiu a equipe dois anos depois. Mas o treinador atual sabe a dimensão do confronto. “A partida é o principal teste emocional e psicológico já vivido por seu grupo. Temos de admitir e dizer as coisas como são”, afirmou. Para completar, o jogo tem outro elemento dramático: assim como em 2014, Neymar está machucado.
Ao marcar o amistoso, o objetivo da comissão técnica era permitir que a equipe passasse por esse teste fora de um torneio oficial. “Carregamos esse fantasminha todos os dias. Ele está todos os dias aqui. Por isso, aqui em Berlim, queremos passar mais uma etapa”, disse Tite, que fará seu 19º jogo na seleção.
Do lado alemão, o discurso é diferente: a humilhação não será apagada e o amistoso será apenas um momento para testar novos jogadores. O “fantasma” alemão não está dando a mesma importância à partida e entrará em campo com um time alternativo Seus principais craques, que preferiram jogar contra a Espanha na semana passada, serão poupados. “Esse assunto (7 a 1) não é tão importante”, disse Joachim Löw, técnico alemão e que vai para seu 160.º jogo em 12 anos no comando da Alemanha. “Talvez os brasileiros tenham sentimento de uma pequena revanche. Mas era a semifinal da Copa. Não dá para voltar”, disse o treinador, que minimizou a dimensão do resultado em 2014. “Foi um passo para chegarmos à final da Copa”, garantiu.
Entre os jogadores de 2014 que estarão em campo nesta terça, Ginter, que ficou no banco de reservas durante o duelo histórico no Mineirão, adotou o mesmo tom. “Para o Brasil, sempre falam do 7 a 1. Para nós, só estamos pensando na Copa”, disse. “O placar é um tema para os brasileiros. Não é grande coisa para nós”, completou Boateng. “O 7 a 1 é um tema para os brasileiros. Não é grande coisa para nós”, completou Boateng.
Menos de um terço da seleção alemã de 2014 deverá estar na Copa de 2018. No caso do Brasil, entram em campo nesta terça Fernandinho, Marcelo, Paulinho e Willian, os remanescentes da tragédia. O então capitão Thiago Silva, que não jogou a partida há quatro anos em Belo Horizonte, será escalado.
DEFINIÇÃO – Longe dos aspectos psicológicos, o momento é de definição. Para Tite, a partida é o último teste antes da convocação para a Copa. Em jogo, estarão os últimas vagas no grupo. E também um teste para avaliar se o esquema conseguirá superar equipes europeias.
Essa será apenas a terceira partida do treinador contra um time do Velho Continente. Nas duas oportunidades que teve, Tite encontrou dificuldades. O Brasil empatou sem gols contra a Inglaterra e, na semana passada em Moscou, demorou para encontrar espaço no triunfo por 3 a 0 sobre a Rússia. Na Copa, os dois primeiros rivais são europeus: Suíça e Sérvia.
Agora, contra a Alemanha, Tite vai adotar uma nova formação mais cautelosa, com Fernandinho, Casemiro e Paulinho no centro, e Coutinho atuando pela direita. Dessa forma, Tite quer exorcizar um drama recente que poderia continuar a minar seu projeto. Ao assumir a seleção brasileira, em sua primeira coletiva de imprensa no Rio em 2016, Tite insistiu que estava “na hora de dar passo à frente em relação ao 7 a 1 e esquecer”. Dezenove jogos depois, o treinador sabe que o momento chegou, mesmo que seja em um amistoso.