Para muitos dos que sobreviveram aos temporais que caíram no Sudeste neste verão, a chuva ainda não acabou. Mesmo após a estiagem, as histórias se repetem: o desafio agora é superar a perda de parentes, da casa ou do ganha-pão, levados nas enchentes ou nos deslizamentos.
Os números ilustram o tamanho da tragédia: neste verão foram pelo menos 164 mortes – praticamente o dobro do que foi registrado no ano anterior.
O total de desabrigados passa de 87 mil. Nesta semana, a Baixada Santista entrou na lista. Até este domingo, os bombeiros já haviam encontrado 42 corpos em Guarujá, Santos e São Vicente. Outros 36 continuam desaparecidos, conforme a Defesa Civil Estadual. A maioria das vítimas foi soterrada em deslizamentos em áreas de risco.
O Estado de São Paulo, por exemplo, tem mapeadas 665 áreas de risco para desastres naturais. Esses locais estão distribuídos em 313 dos 645 municípios paulistas, de acordo com a Defesa Civil.
Segundo especialistas, a tendência é de que as chuvas extremas e os desastres relacionados aos temporais fiquem cada vez mais comuns, diante das mudanças climáticas e de problemas urbanísticos das grandes cidades, como pouca permeabilidade do solo e sistemas de drenagem ineficientes.
“A prioridade zero é haver mudança de mentalidade, tanto por parte do poder público e agentes privados quanto da sociedade em geral”, diz Valter Caldana, professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. Para ele, é preciso investir em saneamento e mais áreas verdes. “A arborização não é só enfeite. Muda completamente o clima, altera a velocidade das águas (por ser permeável) e baixa a temperatura.”
Para Álvaro Rodrigues, ex-diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), é preciso apostar em moradia popular. “A população pobre hoje é empurrada para áreas de risco, onde vai encontrar um metro quadrado em condições de ser comprado ou alugado barato”, diz.