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“Cargas ao mar”

Lançar uma carga ao mar significa aliviar o navio, torna-lo menos pesado. Lançar fora ou livrar-se de algo que atrapalha o bom andamento da embarcação, que diminui o ritmo, que aumenta o gasto de energia e combustível, que apenas ‘atrasa’, então, para que o navio possa retomar o ritmo, possa andar com velocidade adequada, seguindo em frente, livram-se das cargas.

Assim é nossa vida, assim ocorre conosco: ao longo dos anos, acumulamos cargas, pesos, volumes, que ficam ali, aparentemente, imperceptíveis, mas atrapalhando nosso ritmo, nossos relacionamentos, o andamento de nossa vida!

É aquela mágoa guardada ‘para sempre’ no coração, é aquela raiva ou aquele ódio armazenado em nós, aquela frase que ouvimos e não nos sai da cabeça, fica ali, martelando e martelando e volta nas ‘piores horas’. São eventos traumáticos que passamos com mãe, pai, irmão, irmã, marido, que ficam por ali, prontos para serem usados a qualquer momento, nunca nos esquecemos e nunca nos permitimos re-escrever a relação com estas pessoas. Áh, mas espera! Quer dizer que além de sofrer algo horrível que fulano me fez, tenho de esquecer e me relacionar bem com ele?? Que loucura é essa?!

Não é isso, se já passamos por este ‘algo horrível’, remoê-lo a vida toda, não esquecermos o evento é apenas cultivarmos o que há de ruim em nós, cultivar, regar a mágoa presente em nossos corações. Re-escrever a história não significa ser ‘amigo de novo’, mas sim, re-escrever a história de mágoa e raiva, transformar a história em neutra, transformar a pessoa em pessoa regular, nem amigo e nem inimigo, deixar que ela siga seu rumo e nos permitirmos seguir o nosso, sem sentimentos ruins.

Quem não conhece alguém que passa os dias acompanhando seus desafetos, as pessoas que as magoaram, desejando que se deem mal, falando deles, se remoendo com possíveis sucessos, se alegrando com dores e fracassos? Mas espera… deixa eu pensar aqui: essa pessoa, ao invés de curtir sua família, de estudar, de sorrir, de ler, de dormir, de olhar o facebook, perde seu tempo acompanhando, ‘perseguindo’, desejando mal e alegrando-se com a ‘desgraça’ de seu desafeto?

Seria mais ou menos como o ditado popular: “Tomar um copo de veneno, esperando que o outro morra”. Assim é a mágoa cultivada e regada… cresce e toma conta de quem tanto cuida dela, de quem tanta importância dá a ela, fica tão grande, que vira uma carga que atrasa, que desgasta, que leva ao gasto de energia e de ‘combustível’.

Libertemo-nos! Cabe ao outro viver com o que fez, com o mal que causou, com as dores que proporcionou, com a injustiça que cometeu. E a punição? Ela vindo ou não, nos libertarmos, seguirmos em frente, deixarmos os pesos desnecessários é fundamental! É vital! Precisamos estar leves, abertos a novas experiências, livres de amarras, livres de sentimentos ruins!

Martha Medeiros, sabiamente, pontua: “É de minha responsabilidade não ficar triste, não deixar ninguém me magoar, não deixar que nada de ruim me aconteça.”, cabe a cada um de nós o que fazer com os eventos que passamos, com o que nos acontece, com o que nos fazem, com as experiências que passamos.

Cargas ao Mar pessoal!! Livres dos pesos! Soltos! Sentimentos renovados! Cultivemos o que há de bom dentro de nós, enfrentemos o ruim e que nos leva ao sofrimento, mas deixemos que passe, que vá embora …

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