O Ibovespa alcançou nesta terça-feira, 17, o maior nível de fechamento desde fevereiro, escalando novo degrau na trajetória de recuperação, agora na faixa dos 107 mil pontos, ao emendar o terceiro ganho consecutivo. Apesar do dia de cautela no exterior – passado o entusiasmo com as vacinas, volta-se a olhar a progressão da doença na Europa e nos EUA -, o índice da B3 segue movido pelo recente reingresso do investidor estrangeiro, enquanto, aqui, busca-se também dar um voto de confiança ao compromisso das autoridades econômicas com a responsabilidade fiscal.
Em dia de escassez de novos catalisadores, o Ibovespa sustentou alta de 0,77%, aos 107.248,63 pontos, superando a referência de 4 de março (107.224,22), ao atingir desta vez o maior nível de fechamento desde 21 de fevereiro, então a 113.681,42 pontos. Mais acomodado do que no dia anterior, o giro financeiro ficou em R$ 36,7 bilhões, ainda alto para o padrão da B3 – ontem, atingiu R$ 54,3 bilhões, superando o da terça-feira, 10, quando havia chegado a R$ 51,2 bilhões. Saindo de abertura a 106 430,04, com mínima a 105.846,62 e máxima a 107.810,31 pontos na sessão, o Ibovespa avança 2,41% na semana e 14,15% no mês, limitando as perdas do ano a 7,26%.
No intradia, o índice foi hoje ao maior nível desde 3 de março, então a 108.803,58 na máxima daquela sessão. A referência seguinte para o intradia (113.646,53) está agora em 26 de fevereiro, a Quarta-Feira de Cinzas em que se iniciou, com queda de 7%, a forte correção que precedeu a quarentena, na penúltima semana de março. Dessa forma, o índice não apenas supera o melhor desempenho mensal desde o início do ciclo de recuperação (+10,25% em abril), como também se reaproxima de níveis do fim de fevereiro, antes do mergulho de 29,90% ao longo de março.
“O fluxo tem se mantido excepcional, com o retorno do estrangeiro contribuindo para dar sustentação ao índice, ainda muito barato em dólar. A situação de momento ainda é muito condicionada por fluxo para emergentes, passada a eleição americana”, aponta Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. Na B3, o fluxo estrangeiro em novembro está positivo, até o último dia 13, em R$ 17,767 bilhões, o correspondente a R$ 160,763 bilhões em compras e R$ 142,995 bilhões em vendas – a maior entrada nominal mensal, sem correção inflacionária, desde 1995. No ano, a R$ 67,1 bilhões, o saque líquido dos estrangeiros ainda é bem superior ao de 2019.
Na esfera doméstica, o governo tem buscado mostrar compromisso com o ajuste fiscal, fator que tem sido monitorado de perto pelo mercado. Hoje, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, reiterou que a agenda fiscal será retomada em 2021, enquanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ser importante manter o compromisso com a responsabilidade nas contas públicas. Segundo Sachsida, mais R$ 110 bilhões vão entrar na economia brasileira até o fim do ano por meio dos auxílios emergenciais adotados na pandemia.
Levantamento do Bank of America (BofA) mostra que melhorou a percepção dos investidores quanto ao desempenho do Ibovespa este ano: 78% dos participantes esperam que o índice supere os 110 mil pontos ao fim de 2020, ante 54% em outubro; e, para 61%, deve encerrar o ano acima de 120 mil pontos.
O volume proporcionado pela retomada do interesse estrangeiro pela B3 em novembro tem se refletido também na recuperação de papéis que ainda sustentam perdas significativas no ano, como Petrobras e bancos. Hoje, Petrobras PN e ON fecharam respectivamente em alta de 1,72% e 1,13%, mas ainda conservam perdas de 21,50% e 23,61% em 2020. Outro destaque na sessão foi Vale ON, em alta de 3,16% no fechamento, ampliando o ganho acumulado no mês a 10,60% e, no ano, a 30,52%. Os bancos também fecharam em sinal único, em alta entre 0,07% (Itaú PN) e 1,85% (Santander) na sessão.
“Vale e Petrobras puxaram hoje, levando o Ibovespa junto. O mercado reagiu muito bem ao fechamento ontem da posição do BNDES em Vale, e a alta do minério na China também ajudou hoje, enquanto Petrobras tem sido favorecida pela busca por ativos depreciados”, observa Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, que vê o Ibovespa acima de 110 mil pontos no encerramento do ano.