Passados seis anos da estreia dos primeiros aplicativos para corridas de táxi em São Paulo, as ruas da capital passaram por uma mudança: é cada vez mais comum ver pontos vazios. Não é que a permissão para usar uma das paradas tenha deixado de ser interessante para esses motoristas. Mas, quando saem, eles agora demoram mais para voltar aos pontos. Ligam os aplicativos e continuam pegando clientes.
Nesta quinta-feira, 7 o jornal O Estado de S. Paulo percorreu 32 pontos em bairros do centro expandido: Vila Mariana, Bela Vista, Jardins, Consolação, Higienópolis e Santa Cecília. Em 7 não havia carro nenhum. Dos demais, apenas o da Estação Vila Mariana do Metrô estava com lotação completa. Os outros tinham até três carros.
“Em geral, dou até sorte. Hoje, dei azar”, disse o representante comercial Bruno Rezente, de 31 anos, que tentava tomar um táxi na Rua Haddock Lobo, nos Jardins, na hora do almoço. Acabou pegando um carro que passava pela rua.
Outra mudança com a chegada dos apps – incluindo o surgimento dos concorrentes, como Uber, Cabify e 99Pop – é a derrubada do preço dos alvarás de táxi no mercado paralelo – cujo comércio é proibido pela Prefeitura. No passado, um alvará em um bom ponto chegava a custar R$ 150 mil. Em sites de classificados, havia, nesta quinta-feira, ofertas por até R$ 25 mil. Em 2015, ano da regulamentação dos apps, 1.775 transferências de alvarás foram feitas na cidade. Em 2016, após as mudanças e com pagamento de taxa, houve apenas 455, segundo a Prefeitura. No ano passado, já foram 1.262.
“Estou chegando ao ponto às 6 horas, porque tem uma senhora, cliente antiga, que está fazendo um curso em Santo Amaro e combinei de levá-la. Depois que a deixo, vou tomar um café e levo o celular. Sempre aparece uma chamada antes de eu pagar a conta da padaria”, diz o taxista Otávio Zanutto, de 51 anos, há 15 em um ponto da Barra Funda, zona oeste. “O taxista chega de manhã, faz uma corrida e depois fica rodando. Vêm mais corridas pelo aplicativo do que o pessoal que chama na rua.”
Preferência
Dados da Prefeitura mostram que a procura por um ponto ainda é alta. O último sorteio ocorreu em dezembro, oferecendo 2.912 vagas, e teve 9,6 mil interessados. “A procura por essas vagas e o aumento no número de pontos fixos indicam que esses lugares ainda são utilizados pela população e pelos motoristas”, informa o Departamento de Transportes Públicos (DTP), órgão da Prefeitura que regula a atividade.
Os pontos abandonados por condutores são minoria. Em 2017, apenas nove foram extintos. Neste ano, 4. Mas são visíveis. Na Rua Sebastião Pereira, em Santa Cecília, por exemplo, o ponto com três vagas de estacionamento passa a maior parte do dia vazio. Próximo do Minhocão na frente de um prédio com ampla marquise, o lugar concentra moradores de rua, que dormem ali durante o dia.
Para o engenheiro Sérgio Ejzenberg, mestre em transportes pela Universidade de São Paulo (USP), a mudança de comportamento é nova e precisa de estudos. “Os aplicativos proporcionam que, no lugar de pontos, haja uma ‘nuvem’ de oferta de táxis para uma ‘nuvem’ de clientes, o que torna o processo dinâmico”, diz.
Por outro lado, embora os pontos vazios possam ser usados para outras funções, como aumentar as vagas de Zona Azul para carros ou mesmo as faixas de rolagem para os automóveis, ele lembra que essas paradas têm a função de organizar a oferta. “Sem os pontos fixos, a periferia poderia ficar desassistida. O que acontece é que os taxistas saem de seus pontos e se organizam ao redor da demanda.”
Presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo (Sinditaxi), Natalício Bezerra afirma que “tem épocas do ano, como o Natal, em que os pontos realmente ficam vazios”. “Mas não é o ano todo. E tem ainda muitos clientes que ainda fazem sinal na rua.”