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Alvo de tentativa de homicídio em Cordeirópolis resgatou vítima de “Tribunal do Crime”

O Ministério Público (MP) de Cordeirópolis (SP) denunciou à Justiça três pessoas por tentativa de homicídio qualificado. O crime ocorreu em 12 de abril deste ano e, na ocasião, três pessoas foram feridas por tiros.


O promotor Hélio Dimas de Almeida Junior cita na denúncia que J.J.N., vulgo “Chocolate”, M.H.S. e a mulher K.C.A.L. ajustaram a execução de um homem e de quem mais estivesse ao seu lado no momento do crime. “Para tanto dividiram as tarefas. J. assumiu a função de providenciar a arma de fogo e efetuar os disparos, enquanto M. e K. ficaram responsáveis por prestar o auxílio material, consistente em orientar espacialmente J. a respeito da localização exata das vítimas e, ainda, apagar as luzes com o objetivo de dificultar possível identificação do autor dos disparos”, descreveu o promotor.

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Depois que combinaram como o crime iria ocorrer, M. e K. foram até o local, na Avenida Wilson Diório, na Vila Nossa Senhora de Aparecida, num beco existente na região conhecida como Pátio da Estação, e passaram a circular entre os moradores e pedestres. Ainda conforme a denúncia, K. notou então que o alvo deles estava com outros dois homens numa confraternização, participando de um churrasco, e passou a orientar os demais moradores a retirarem as crianças da rua, dizendo “o bagulho vai ficar louco, pois acontecerá uma tragédia aqui”. De acordo com o promotor, nesse momento ela já fazia alusão aos tiros que seriam disparados contra as vítimas.

Logo em seguida, ela ligou para “Chocolate” e indicou a localização exata das vítimas, além de sinalizar para seu companheiro M. para que ele desligasse a iluminação do local. “Após M. apagar as luzes, o casal passou a chamar J., dizendo ‘agora venha que apagou a luz’. De imediato J., vestido de roupa preta para dificultar sua visibilidade, ingressou no beco com uma arma de fogo em punho, dirigiu-se até as vítimas e passou a efetuar disparos”, completou o promotor. Três pessoas foram atingidas e o autor dos disparos fugiu. As vítimas foram socorridas e levadas ao hospital por familiares, o que impediu o óbito. Uma delas, inclusive, foi submetida a procedimento cirúrgico de alta complexidade. Os tiros acertaram o antebraço direito de um dos homens, o cotovelo direito de outro, o ombro direito e o abdômen do terceiro, que, embora tenha sobrevivido em razão da intervenção cirúrgica, sofreu lesões corporais de natureza grave.

J., que tinha deixado a prisão e assumido o tráfico de drogas naquele ponto, fugiu e foi localizado dias após o crime pela Polícia Civil. Ele estava escondido num imóvel em Rio Claro (SP).

MOTIVO DO CRIME

Durante a investigação, a Polícia Civil descobriu a existência de uma organização criminosa, cujo objetivo era não somente o controle do tráfico de drogas em Cordeirópolis e região, mas também a prática de inúmeros crimes. Revelou-se, ainda, que “Chocolate” e seus comparsas não só participavam da aludida associação para o tráfico , inclusive com o recrutamento de adolescentes para as empreitadas criminosas, como também forneciam armas para delitos por eles praticados, atuavam como receptadores de produtos que são trocados por drogas e integravam a organização criminosa denominada Primeiro Comando da Capital (PCC), com o objetivo de praticar diversos outros delitos, entre os quais homicídios e Tribunais do Crime.

A história que resultou na tentativa de homicídio teve início em 8 de abril, quando os três acusados pelo MP, um adolescente e outros dois homens não identificados, do PCC de Rio Claro, promoveram “Tribunal do Crime” para julgar uma pessoa acusada de ter estuprado uma mulher moradora do Pátio da Estação. Porém, foram impedidos de efetivar o julgamento e a consequente execução da vítima por um dos homens ferido na tentativa de homicídio, que era o alvo do trio.

No dia do “Tribunal do Crime”, o alvo dos acusados foi ao local com um artefato explosivo, que utilizou para fazer um grande barulho e assim dispersar o bando. Em seguida, pegou o homem que seria executado e o levou à rodoviária, auxiliando-o a se evadir para permanecer vivo.

Ainda na denúncia, o MP menciona que J. já havia incendiado o barraco da vítima do julgamento, além de torturá-lo no dia do “Tribunal do Crime”. A suposta mulher estuprada é irmã de K. e, segundo as investigações, quando colocada frente à frente com o homem que seria executado, ela negou ter sido vítima de estupro, mas “Chocolate” insistiu na perseguição ao homem.

Por isso, o trio passou a se organizar para executar o homem que resgatou a vítima do “Tribunal do Crime”. E colocaram o plano em prática no dia 12 de abril.

AMEAÇAS APÓS O CRIME

Na denúncia, o MP aponta ainda que, após o crime, a mãe de J. procurou pessoalmente parentes das vítimas que serviriam de testemunhas do delito e os intimidou.

Em pelo menos duas oportunidades, de acordo com a denúncia, ela disse “sai fora, o que não aconteceu vai acontecer”, para a mãe de uma das vítimas feridas pelos disparos. “Fazendo alusão à possibilidade de ‘Chocolate’ e seus comparsas voltarem a atentar contra a vida do seu filho, caso ela não ficasse calada e se mudasse de residência”, descreve o promotor na denúncia. A esposa do alvo de J. também chegou a ser ameaçada pela mulher, que a mandou deixar o Pátio da Estação.

A DENÚNCIA

À Justiça, o MP pede que J., M. e K. sejam condenados, três vezes, por tentativa de homicídio com duas qualificadoras: motivo torpe e emboscada, mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossével a defesa da vítima.

A mãe de J., identificada como R.A.M., também é acusada por coação no curso do processo. A defesa de todos poderá se manifestar à Justiça até o dia do julgamento, que ainda não tem data para ocorrer.

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