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Acompanhar a modernidade, mas sem perder o foco na educação e aprendizad

Antigamente nossos professores eram bravos, rígidos, tínhamos ponto negativo, ponto positivo, tínhamos de refazer lições inteiras, ‘passar a limpo’ o caderno relaxado nos dava ataques de nervoso. Nossos mestres separavam as duplas faladeiras, sem dó, nem piedade. Quando entravam em sala, ninguém entrava depois, o silêncio precisava imperar, levantar a mão para falar era condição para ser ouvido. Uma olhada dele (a) em nossa direção nos fazia dar aquela tremida e pensar: “Que foi que fiz??” e ai de nós se tivéssemos feito alguma coisa errada. Vinha aquela bronca bem dada. Recheada de afeto, mas uma bronca para não esquecermos mais.

Esqueceu a lição? “Traga amanhã seguido desta outra aqui e tem o ponto negativo de hoje”. E lá íamos nós passar o dia inteiro fazendo lição.

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Explicavam, re-explicavam a matéria. Parece que de longe farejavam que não havíamos entendido nada e faziam a pergunta que nos fazia gelar: “Fulano, que você entendeu disso que acabei de explicar?”, se o fulano gaguejasse, eis que nova explicação vinha, de outra forma, de outra maneira, mostrando versatilidade, domínio total de sua disciplina e conteúdo, flexibilidade, criatividade e conhecimento do aluno, apenas olhando para o mesmo, além da paciência.

O ‘quadro negro verde’, o giz de cera branco e amarelo, muito utilizados, as cópias, os resumos, o visto no caderno, as provas elaboradas com muita criatividade e originalidade, provas que de fato mensuravam quanto do que ele (a) ensinou havia sido absorvido pelo aluno. Ficávamos com a soma das duas notas dividido por dois, mais ou menos os pontos negativos (por comportamento, lição não entregue e etc) atribuídos aos alunos. Não tínhamos apostila do sistema x ou y, mas livros de cada disciplina e uma Biblioteca cheia de outros livros para complementar aquilo que estávamos aprendendo.

O mundo foi se modernizando, o conhecimento foi ficando mais acessível, o “Google” passou a ser amplamente utilizado para pesquisas, leituras e melhorar o conhecimento que os docentes já possuem. O “Whatsapp” passou a ser uma ferramenta de troca de conhecimentos e de idéias entre professores, isto melhorou muito o acesso à informação.

As faculdades foram incluindo em sua grade curricular mais disciplinas teóricas, práticas, amplas noções de psicologia da educação e seguimos melhorando.

O ‘quadro negro verde’ deu lugar ao novo quadro, branco de outro material, o giz deu lugar às canetas de lousa azul, preta e vermelha. Os vídeos, que antes eram passados vez ou outra no Vídeo Cassete, deu lugar ao notebook e à transmissão do filme no telão da sala de aula, que muitas vezes até ar condicionado tem. Os professores têm o “Power Point” e o “Data Show” como mais uma ferramenta a implementar suas aulas.

Fomos do mimeógrafo às provas impressas no sulfite A4 de um “PDF” que o professor montou. As provas seguem a filosofia da escola, o método de ensino adotado e buscam referência nos melhores vestibulares do País. Temos salas virtuais. Temos grupos da sala de aula no “whatsApp”.

Antes tínhamos o ensino, básico, tradicional mesmo, hoje as escolas estudam e definem qual linha de ensino irão seguir, se Piagetiana, se seguirão Vygotsky, se Wallon, Montesori. A partir de seu entendimento de aprendizagem, definem qual será a linha que seguirão, fazem treinamentos e formações com sua equipe, tudo excelente.
Nossa educação nunca esteve tão boa!! Será?

Convido-os à reflexão: Avançamos tanto assim mesmo, no que tange ao ensino/aprendizagem? Nossas crianças sabem mais do que sabíamos na época em que cursávamos sua série?

Infelizmente não! Muitas vezes sabem menos, seguramente escrevem mais errado. Os ‘chat lines’ da vida têm grande responsabilidade nisso, pois abreviaram tudo, para que a rapidez da comunicação não seja ‘atrapalhada’ por palavras escritas por inteiro. Então lemos: “v vai hj lah” (assim sem interrogação, fica a critério do leitor a interpretação), ou “md, o mlk fko loko.” (para quem, assim como eu, tem alguma dificuldade para acreditar que isso está escrito em ‘Português’, segue a tradução: Você vai hoje lá e Meu Deus, o moleque ficou louco.

Além da língua portuguesa que ficou seriamente ‘agredida’ por essa reduzida linguagem virtual, nossa letra cursiva (lembram da letra de mão?) também, pois hoje as crianças digitam o tempo todo e quando escrevem, além dos erros, temos as letras ilegíveis.

Áh, dizem os avós, dê cópia para esse (a) menino (a) fazer no caderno de caligrafia que melhora. Mas as escolas não dão mais os cadernos de caligrafias, as cópias e as pesquisas de palavras e significados no Dicionário (físico, aquele pesado, real, não o virtual).

Não são todos os alunos que leêm títulos da Coleção Vaga Lume, que leêm Senhora, de José de Alencar, Dom Casmurro, de Machado de Assis, Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, os Sertões de Euclides da Cunha, dentre outros…
Lógico que leêm bons livros, modernos, com temas atuais, mas jamais falarão sobre o sorriso obliquo de Capitu, não terão lido a mais perfeita descrição da cortina da sala de Aurélia, que quase nos faz enxerga-la e assim por diante.

Nossos alunos não fazem mais provas de dez questões, mescladas do caderno, livro e lousa, provas daquelas que você quase consegue escutar o professor falando, quando lê a questão. As correções de nossas provas eram em cima do material que tínhamos conosco.

O (a) aluno (a) jamais se esquecerá que na prova de Geografia havia uma questão que perguntava sobre a China e, sem lembrar muito bem da aula, o (a) mesmo (a) colocou que tratava-se de um País pequeno e de pouco populoso. Na correção o (a) mestre (a) aparece com o Globo Mapa Mundi e mostra a China e re-explica ser este o País mais populoso do mundo, à época. Passem os anos que passarem esta informação ficará com este (a) aluno (a) para a vida toda. E trazíamos a correção da prova em folha de almaço na próxima aula para o professor (a).

Áh, mas hoje em dia temos a modernidade, temos autores que falam sobre temas mais importantes para as crianças e adolescentes que a Coleção Vaga Lume, temos autores que falam sobre o mundo virtual, a paquera, a adolescência… Hoje temos o Data Show, a informática a nosso favor, o mundo gira rápido demais. Hoje podemos montar avaliações usando as questões mais difíceis dos vestibulares mais difíceis e concorridos do País. Hoje compilamos o material para que mais informação caiba em menos espaço e assim ensinamos mais em menos tempo e preparamos melhor o aluno para ser aprovado nos melhores vestibulares. Hoje não somos tão rígidos como antes, pois somos mais parceiros do aluno. Hoje não pedimos caligrafia, cópia ou Dicionário, pois ele está construindo seu conhecimento e sua maneira de aprender.

Este texto não é uma crítica à Educação de Hoje em dia, mas sim, um convite a pensarmos se não perdemos algumas ferramentas essenciais da educação? Se não estamos deixando passar conhecimentos que usarão no Vestibular e na vida. Não estamos fazendo prova que os apavora mais que a prova do Vestibular (que muitos nem sabe o que é direito, pois vivem isto desde o sexto, sétimo ano do Ensino Fundamental)? E pra que? A prova não é para medir e mensurar se aprenderam e quanto?

Os trabalhos em grupo antes pedidos de forma comedida, hoje são absurdamente utilizados, os alunos, muitas vezes não recebem orientações para fazê-lo e ficam copiando e colando o que encontram no “Google” e vão tirando notas se o “Ctrl c e Ctrl V” que deram seguiu o tema proposto. Em 15 dias, lembrará ele do conhecimento produzido neste trabalho?

Penso que precisamos rever nossa maneira de ensinar. Nossa filosofia. Precisamos nortear sim nosso entendimento sobre aprendizagem, usar a modernidade a nosso favor, penso que podemos ensinar mais e exigir mais, mas não podemos perder a essência da sala de aula que ensina, do professor que norteia o aprendizado e que ‘facilita’ ao aluno o apreço por sua disciplina. Podemos cobrar como o vestibular, mas devemos lembrar da Psicologia do Desenvolvimento que aprendemos na sala de aula. Será que há preparo do aluno para esta cobrança?? Para esta matéria nesta idade?

Caso contrário, estaremos prestando um desserviço à educação, ao aluno e ao nosso futuro, pois teremos adultos que não internalizaram os conteúdos que deveriam, que aprenderam para aquele momento. Alunos que não se preocuparam em ler mais coisas deste ou daquele autor clássico, pois nem se quer os conheceram…

Há alguns dias conversando com uma amiga, que hoje coordena uma escola tradicional, mas que acompanhou a modernização e os tempos de hoje, pude perceber como é bela a escola que mantém aspectos tradicionais (aqueles que não saem de moda) do ensino/aprendizagem e que somam com a tecnologia, com material apostilado, com vídeos e informática, com data show. Mas existe uma soma. Existe a formação do aluno pensante, aquele que usa a tecnologia para ir além, que usa a apostila para ir em frente e não que se prende a tudo isso como se fossem estas suas únicas ferramentas.

Finalizo com um pensamento do eterno Rubem Alves: “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”

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